domingo, 11 de março de 2012

Descomplicando o Evangelho - 2

Genealogia de Jesus

Isaque.
Filho da promessa de Deus a Abraão e à sua esposa estéril Sara. Isaque cresceu com pais muito idosos e teve uma educação direccionada para a presença de Deus. Teve de lidar com os ciúmes do seu meio-irmão Ismael, filho de Abraão com a escrava Agar, numa tentativa de cumprir pelos seus próprios meios, a promessa de Deus. Sofreu com as mortes dos seus pais mas foi consolado pela entrada de Rebeca na sua vida - entretanto também estéril. Por ser um homem de fé pediu a Deus pela sua esposa e ela concebeu gémeos!
Estranhamente apesar de ter sido levado pelo seu pai a ser sacrificado e ter visto a lâmina bem perto, Isaque não sofreu nenhum trauma e continuou a mar o seu pai e a acreditar no Deus que o levara para o monte, que fora o mesmo que o tirou de lá.
Não cometeu erros crassos de conduta e seguia os ensinamentos de seu pai. No entanto, enquanto pai ele mesmo, preferiu um filho em detrimento de outro, e preparou uma bênção mais rica que outra. Fez acepção de pessoas com os seus descendentes. Pecou. Não amou com sinceridade por colocar expectativas diferentes, em cada um dos seus filhos. No entanto as promessas de Deus prosseguiam e Deus escolheu Jacó - mal amado pelo pai - através do qual se iriam concretizar os planos de multiplicação e criação de uma nação.

Deus fez de propósito para castigar Isaque? Não. Os seus planos estavam traçados e Rebeca sabia que Deus iria usar Jacó. Estava traçado. E Deus provou mais uma vez que não é como achamos mas como Ele sabe que é.

meditação

"Se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e o pecador" Provérbios 11 verso 31

O Clube dos puros, incólumes, rectos aos olhos dos outros, segue padrões, estanque ao mundo, crê ser perfeito e no entanto, está longe da graça.

A noção imperativa e standard que circula pelo mundo e pelas sociedades exclusivistas religiosas é que quem adere a uma vertente filosófica espiritual, que apela à retidão e à práctica do bem comum, é estanque aos males do mundo, aos erros e é [deve ser] um exemplo 24horas por dia; está já longe das acções individualistas e antropocêntricas da sociedade actual - cultura ocidental massificada. E que só os que não optam por viver nessa perspectiva filosófica estão condenados ao esquecimento numa realidade nova e transcendente.

Mas as regras impostas na realidade que a todos é comum são para todos. Se não se vive numa realidade material é porque já não existe em forma de matéria. A solução para tal perspectiva seria a criação de um novo espaço físico e político, que teria de ser reconhecido pelo mundo. Não sendo isso possível, cai-se na dicotomia da vivência em liberdade dentro de um ghetto alguns dias por semana ou todos os dias no seu próprio lar, com o quotidiano de uma sociedade que se condena mas que se aceita. Isso é hipocrisia e esquizofrenia filosófica. Como obedecer a uma lei divina e a leis humanas? Como dizer que se é santo e diferente se se erra, tropeça em palavras e gestos por influência do ambiente que maioritariamente nos rodeia?
1)Ser-se um robôt implacável até à incompreensão dos outros - sem amor pelo próximo mas muito-amor próprio!
2) Vivendo seguindo a leis e normas de comportamento mais fáceis de cumprir do que o sacrifício de amar quem não nos ama.

E essas leis foram criadas para um povo temente a um Deus presente. Agora que esse Deus continua presente, o povo já não O teme mas às leis. Porque há de facto uma correspondência no sistema dos outros: palavras com peso de conduta, condenação por erros cometidos, sanções pelas mesmas.
Não há nada sobre amnistia persistente e cuidado individual a cada infractor até que perceba o quão errado é a sua escolha de vida.

A verdade é que é mais fácil seguir normas ao invés de ser-se transformado por quem as criou; o mesmo que nos amnistia diariamente, sem que peçamos.
Devemos não errar porque nos dizem e impõem ou porque não somos internamente movidos a errar?

A minha meditação é sobre a Graça. O favor dado a quem quer amar o mais possível dentro das suas limitações, o próximo porque ama a Deus; a quem cai continuamente no mesmo erro porque ainda não percebeu que pelas suas próprias forças não consegue mudar; a quem ainda chora por dentro por ter errado, ao invés de ter cauterizado a sua consciência em desculpas normativas filosóficas antropológicas ou meras emoções.


Por errarmos sofremos por nós mesmos e mais tarde ou mais cedo por intermédio de que ferimos. A punição é para todos. Ser filho de Deus não nos isenta nem amnistia do mal cometido. E se o cometemos, temos alguém que nos despe interiormente, sondando o arrependimento sincero e ao soltarmos o pedido de perdão, nos liberta da culpa emocional. Como bom Pai, não nos liberta da responsabilidade dos nossos actos; mas consola-nos durante o julgamento e o castigo.

Este verso de sabedoria deve ser - na minha perspectiva - lido ao contrário:
"Se o perverso e o pecador são punidos na terra, quanto mais o justo!" Ao que acrescento: "Porque todos somos responsáveis pelos nossos actos."